domingo, 12 de agosto de 2012

Origem do Violino


               " Não é possível estabelecer com exatidão de que instrumento - entre a antiguidade mais remota conhecida - provém o violino e se sua origem é europeia ou oriental, dado que as distintas teorias que tratam deste tópico se fundem em simples hipóteses."
                                                                                                                    Pasquali-Principe (1926)
                                                                                                               El Violin: Manual de cultura e
                                                                                                                        didactica violinistica.
               


               Ainda é muito difícil, com a quantidade de pesquisas feitas, descrever uma genealogia precisa que nos permita retroceder no tempo e nos dar certeza do "verdadeiro" (se é que isso é possível) instrumento que originou o violino. O mais correto talvez, seja dizer instrumentos, afinal, vários instrumentos antigos tem uma certa semelhança com o violino: corpo com "barriga" como o Nefer, uso do arco como Ravanastron, corpo fino e alongado como o Rebab... enfim, uma infinidade de instrumentos que levaram gerações de construtores a aperfeiçoar e criar novos instrumentos, o que levaria a encontrar a perfeição na construção do violino.
            Ao enumerar os instrumentos mais antigos, utilizaremos o livro dos autores Pasquali-Principe (1926), que os dividem em dois grupos: Orientais e dos Ocidentais.

Instrumentos Orientais





Nefer - Instrumento egípcio com um braço extenso e dorso deformado. Está reproduzido em inúneros baixo-relevos e formam parte do alfabeto hieroglífico.





Ravanastron - Usado na Índia em tempos remotos e também atualmente. É formado com um cano grosso de bambu e uma pele de serpente posta sobre uma de suas aberturas. Possuía duas cordas de seda; mais tarde uma só tripa apoiada sobre uma espécie de cravelha antiga. O Arco era de bambu, com crinas.




Omerti - É derivado do  instrumento anterior porém, aperfeiçoado. É formado com a metade de um coco vazio coberto na abertura por pele de gazela ou também por uma finíssima folha de madeira. Semelhante ao Ravanastron, seu braço é largo e possui duas cordas.




Urh Sien-R'Jenn - Instrumento chinês e japonês, respectivamente. Derivam do Ravanastron e do Omerti, com idênticas características de construção.



 Kemangeg a gouz - Parecido  com o Ravanastron. Foi construído com metade de um coco vazio simetricamente perfurado no fundo, uma pele e duas cordas. Uma escora de ferro permitia apoiar o instrumento no solo.





Lira Grega - Construída com uma carapaça  de tartaruga, dois braços e um travessão na parte superior que seguravam as cordas.






Rebab Árabe - Foi introduzido na Espanha pelos mouros no século VIII. Sua forma é trapeizodal com fundo plano de pergaminho. Tem uma, duas ou três cordas. Os Árabes chamam a que contém duas cordas de "Rebab dos cantores" e "Rebab dos poetas" quando é de uma corda. Esta corda é usada para impedir que a voz dos narradores ou improvisadores não percam o tom. É tocado como o violoncello e, o mesmo que o Kemangek a gouz, é apoiado no solo com uma ponta de ferro.




Rebab Tunisiano e Argelino - Diferentemente do Rebab Árabe, seu fundo era deformado, com duas grandes aberturas laterais. A tampa harmônica era tão somente a metade do instrumento. Tem a forma de um tamanco e utiliza duas cordas de tripa.

Sarok - Pela forma era parecido com o Rebab Tunisiano/Argelino, porém possuía três cordas.

Instrumentos Ocidentais




Cruth (500 D.C.) - Lembrado no século VI pelo Bispo Venancio Fortunato, em uma de suas composições poéticas. Quem os usava eram os Bardos (casta sacerdotal dos povos celtas), comum na Bretanha, Escócia, Gales e Irlanda, usada principalmente, para acompanhar os cantos religiosos e profanos. Sua caixa de ressonância, sem curvaturas laterais, estavam constituídas por duas tampas planas unidas por aros. Na parte plana que forma o braço, tinha duas aberturas por onde o tocador introduzia os dedos da mão esquerda para apoiá-los sobre as cordas que em número de três se fixavam na tampa desprovida de "corda". Um apoio plano, impedia o arco de tocar somente em uma corda. Durante o século XII, aparece um Cruth com seis cordas, dois dos quais são de Bourdon. Já evoluído, o encontramos no século XVI, sem o formato quadrado de ambos os lados, o que facilitava os movimentos da mão esquerda. Foram usados na Inglaterra e em Gales até o século XVIII.


Rota (Crotta) - Provavelmente seu nome provém de Crotta e não devem ser confundido com a viela de roda: uma beliscada e a outra com arco. Esta última usada por troveiros e trovadores para acompanhar os poemas de histórias amorosas (Lais), se apresenta como a  maior das vielas e pode ser considerada como uma derivação real do Cruth com braço livre (Séc. XVI). Como este, tinha o fundo plano e igual número de cordas; porém no século foi encontrado uma Rota com quatro cordas: "lá", "ré", "sol" e "do". Era tocado apoiando sobre o colo (lembrando que "colo" é exatamente a região peitoral e não "nas pernas" como costumeiramente falamos no Brasil).



Lira (Medieval) - Não deve ser confundida coma Lira Grega. A Lira de arco que encontramos em manuscritos e gravuras do séc. IX, era de fundo convexo como o moderno bandolim, e de um só corpo que, ao contrair gradualmente para a parte superior formava o braço do instrumento. Em sua origem tinha uma corda só, logo o número foi aumentando. Existem liras de diversos tipos: 
Lira Pagã
Lira Rústica
Lira Mendicorum
                   



                                        

Giga - Provavelmente deriva da lira de arco. Era de uma só peça de fundo convexo. A tampa Harmônica era plana, tinha dois "C"s perfurados em um cavalete. O braço resultava do alongamento da caixa e terminava com uma curva, com frequência idêntica à do violino e com a voluta esculpida comoa viola. Na Alemanha foi encontrada duas gigas  com duas caixas harmônicas sobrepostas constituindo uma só coisa com o braço. A giga típica que foi encontrada na França, Alemanha e Inglaterra, tinha três cordas, embora é conhecida com uma corda e de quatro e nos quadros dos pintores italianos é bastante reproduzido.




Pochette ( carteira, bolso) - Giga de dimensões reduzidas. Os professores de dança que a usaram, fizeram da mesma um instrumento de bolso, daí o seu nome.


Rabeca (Rubeca, Rebec...) - Também é denominada Rubeca, Rebebe ou Rebelle.  A rabeca medieval europeia é contemporânea da viela e supõe-se ser idêntica ao rebeb árabe; é de fundo plano e convexo. A caixa de ressonância que não era baixa, se comprimia com as cravelhas em que se enroscavam três cordas afinadas em uníssono e em oitavas, segundo o sistema de cordas duplas então em uso e também por quintas, precursoras da Accordatura (afinação) do quarteto de cordas moderno. se acomodava entre o ombro e o queixo e era tocado com o arco. Em algumas partes da Itália, o termo rubeca se aplica até os dias de hoje (no caso do texto transcrito, na década de 30 do séc. XX).
               N.B. - O termo Rabeca ainda se aplica no Brasil, principalmente para identificar instrumentos similares ao violino, mas de confecção mais rústica. Importante ressaltar que no século XIX,  a documentação dos instrumentos nas partituras no país não designava violinos e sim, rabecas.





Grossgeingen e Kleingeigen (Violinos grandes e pequenos) - Estes instrumentos alemães tinham pouco em comum com o verdadeiro violino. Os primeiros, em forma de violão, eram afinados em uníssono, quinta e oitava; os pequenos semelhantes ao Bandolim, com intervalos de quintas e tinham de cinco a seis cordas.



Tromba Marina (Trompete Maria (?))Instrumento de quase dois metros de altura; tinha a caixa sonora formada com três eixos rusticamente unidos em triângulo, que eram unidos na parte superior. O som era emitido por uma única corda (de tripa), era parecido com o som do trompete.
* "Possuía também de 12 a 24 cordas internas que soavam por simpatia e produziam uma enorme gama de harmônicos. Há quem sustente que o nome do instrumento tenha surgido de Marian (Maria), razão pela qual era também conhecido na Alemanha como Marientrompete , ou ainda Nun´s Fiddle (do inglês, Rabeca de Freira). Surgiu no final do Renascimento, mais logo cedeu espaço para instrumentos mais completos criados no início do período barroco". (DOURADO, Henrique Autran. Dicionário de termos e expressões musicais. Editora 34)



Viela ou Viéle - Era conhecida durante o século X, representada em Baixo-relevos da época. Na Idade Média, foi usada por Tocadores, poetas, cantores e improvisadores do norte e sul da França.



Viela de Arco - É o resultado do aperfeiçoamento do Cruth com braço livre e da Rota. A Viela primitiva, pela sua forma, era quase parecida com a Viola moderna: fundo plano e era acomodada entre o ombro e o queixo; o número de cordas variava entre dois e seis. A Viela de cinco cordas foi modificada em fins do século XIII: deu-se mais contornos ao que chamamos de voluta e houve alterações nos lados dos tampos para impedir que o arco machucasse as bordas. As indicações que encontramos sobre a afinação de uma Viela do século XVI, são mais frequentes a partir do século XV. A viela era afinada de diferentes modos: Re, sol, sol, re, re - Sol, re, sol, re, sol - Sol, do, sol, re, re.





Viela de Roda - Conhecida desde o século X, ainda é usada (Quando o texto foi escrito na década de 30 do século XX, N.B.) em Savoya por tocadores andarilhos. Formada por uma caixa plana, com braço; o som resulta mais do que pela fricção do arco e sim pela roda resinada acionada por uma manivela que tocava as cordas por debaixo. Tem de quatro a seis cordas, algumas de tripa. Com algumas distinções, a viela de Roda pode ser denominada como organistrum, sinphonía, viola de cego e Stampella (Muleta)